sábado, 30 de outubro de 2010

A mãe e a filha

Eu e minha mãe fomos hoje pela manhã comprar as novas lentes dos meus óculos. Passamos na ótica, fomos no supermercado perto e almoçamos por lá.  Conversamos algumas besteiras, inventei de alfinetar seu jeito consumista de ser, e rimos juntas de algumas futilidades. Parece simples, normal, mas não é sempre que me toco em como cada momento desse é único. Enquanto meu estômago se contorce um pouco do medo de dirigir, quando entro no carro e dou a partida, o conforto parte da sensação de tê-la comigo. Não é mero clichê sentimental de mãe e filha, nunca fui muito ligada nisso; sempre me encontrei mais voltada às loucuras das minhas paixões coléricas. Mas hoje houve algo, alguma conjunção entre Urano e Júpiter que me fez sair do momento “não quero sair de casa tão cedo” para o “quero passar o dia todo andando pelas ruas com ela”.
Alguns finais de semana me pegam em cheio com toda a carência maternal que eu possa ter. Assistir tevê ao seu lado é melhor, fazer receitas mirabolantes com a sua supervisão é mais divertido, deitar ao seu lado na cama enquanto lê uma revista é mais aconchegante. E pensar que tem dias que seu jeito me irrita tanto! Hoje só quero um cafuné, que você me acompanhe até a costureira e diga que não gostei da roupa, que eu sou assim, que eu sou difícil de lidar, que eu sou chata com roupas e que só você mesmo para me aguentar. Quero só que você, ao sair da costureira, fale que a roupa estava mesmo feia, que vai comprar doces e besteiras para eu não ficar tão chateada com isso, que eu vou esquecer e que podia ser pior. Certos dias têm cara de vida inteira.
Às vezes, me passa pelos sentidos o quanto nós brigamos, o quanto nós implicamos uma com a outra, mas em quanto e como nós, no final, somos parecidas. Desentendemos-nos bastante, mas nos entendemos em outros tantos assuntos; pouco importa se é maquiagem, política ou vício por algum daqueles docinhos de chocolate com recheio de cereja. Alguns reflexos são mais verdadeiros.
 Costumam falar de “saudade do que nunca tive” numa alusão Marcusiniana das falsas necessidades que nos fazem ter. Aqui falo de saudades do que muito tive, porque, aí sim, tenho motivos de sobra pra me lambuzar em nostalgia pré meia idade. Mergulhar naquela época em que seu mundo volta-se à mamãe, aquele tempo em que Mãe é sinônimo de companhia constante. Aplausos para os que ainda sustentam tal feito, porém, para os como eu, inspire com calma estes breves momentos.
Aproveitar com a alma os instantes perto de nossa mãe é mais do que apenas estar ao seu lado. É entregar-se ao gosto de brincar, de rir, até mesmo de implicar, mas com o maior amor do mundo. Porque a gente sabe: são esses os momentos que ficam para sempre.

- Rita Marcelino

2 comentários:

Unknown disse...

Filha, observo que você cresceu e amadureceu cedo demais... essas suas observações esperava ouvir... mas não agora, acho você tão novinha ainda!!! Nunca tive dúvidas da sua inteligência e de sua facilidade com as palavras, me orgulho disso. Continue escrevendo, pois sei que você vai longe! ADOREI! TE AMO FILHA... QUE DEUS TE PROTEJA SEMPRE1 BEIJOS

Anônimo disse...

Lindo,meigo,singelo,simples,
verdadeiro como só os sentimentos mais puros são.
Esse texto me despertou a saudade da minha mãe. Despertou sentimentos como só o que é verdadeiro é capaz.