quinta-feira, 5 de julho de 2012

Saudade.


         Mais uma vez estou nesse ônibus esperando, inutilmente, que me leve até você. O trânsito caótico passa despercebido sob o pôr-do-sol. Sinto sua falta. A cada rua, esquina, curva.
        Meu olhar desfoca, procura ao longe algum motivo para não achar a cidade tão... pálida. Talvez porque eu esteja perdendo as cores em mim. As buzinas estridentes tão comuns na hora do rush parecem abafadas, como se acompanhassem minha viagem interior. E eu quase posso sentir seu cheiro... Sinto sua falta no meu sorriso, que esses dias anda tão sem graça.
          Olhando as luzes naturais se apagarem, com o coração meio apertado, meio choroso, meio admirado com a quantidade do que se sente, tudo parece mais escuro. Como quando a lâmpada vai perdendo força e cria sombras. É meio engraçado, meio triste. Ando esperando o dia que me sentirei melhor... “Feliz Aniversário, feliz aniversário”.
        Imagino o que estarás fazendo... é só o que posso fazer. Com sorte, sentes a minha falta também. Igualzinho como quando as peças se encaixam ou quando o destino faz o favor de te esbarrar no amor. Estava só procurando minha metade de alma torta, janelas quebradas, mas ninguém me disse que há força na vulnerabilidade, só me disseram para não chorar.
        Sinto sua falta no meu olhar que vai se tornando cada dia mais cinza. Sei que soa demasiado bobo, exagerado, com certeza.
Mas é saudade...




Rita Marcelino

quarta-feira, 9 de maio de 2012

É você.


E mesmo envolta em nuvens cinzas, carregadas de vontade de chorar, ainda consigo sentir a brisa que me inebriou quando você chegou. Macia, suave, quase doce...
Era verão, o sol trucidava meu bom humor, mas você apareceu e eu só via a primavera. Com todas as flores desabrochando, um vento fresco, e melodias leves, quase de ninar. 
Você sério, intocável, pareceria até errado, se não fosse exatamente certo assim.
Eu tinha medo, chovia cá dentro, num grande e amargo inverno, mas a paixão, tendo lá seus mistérios, faz o sol nascer. E nasce sorrindo, sem queimar, vermelho arroxeado, com um tanto de azul, só porque prefiro assim.
Não tinha um porque, com certeza havia um quando. Com toda a urgência de te ver. Quando, quando, quando. E seu olhar cruzava o meu; e meu corpo ansioso pelo seu... por um simples esbarrão. Que nunca acontecia.
Então corria pra casa, para aquele lugar que nos conectava, do jeito que eu sentia que tinha que ser. Me deixava levar, talvez para saber aonde iria, o que escutaria de alguém que não queria nada. 
E eu também achava que não queria, mas e se tivesse que ser assim, para, ainda bem, os dois mudarem de ideia?
E o céu parecia, irritantemente, cada vez mais azul. As nuvens, outrora cinzas, desta vez mais brancas e com bobos formatos de amor.
Acontece o toque, num impulso (des)controlado do meu corpo. Tensão, talvez. Ou não.
Era vez do tornado, chacoalhando-me. Violento, quente, quase sólido...
Certas coisas, depois, não têm saída. Quando meus cortes se encaixaram nos seus, quando meu corpo se encaixou no seu, por um breve momento - infinito em magnitude -, tive certeza.
Era você.



- Rita Marcelino

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

(A)caso

Finalmente, meu amigo, depois de um tempo, a batalha acaba. Desde aquele dia em que mergulhei no fundo dos seus olhos e quase não consegui emergir, quando eu ouvi tudo e mesmo assim não consegui me afastar.  A batalha acabou.
Resolvi pôr-me à prova, virar o outro lado da cara pra baterem, porque é exatamente assim que eu sou. E eu realmente havia esquecido disso... Construí tão dolorosamente esse exoesqueleto que até para desacostumar com sua forma é aterrorizante. Porque achava que, se eu me desfaço da carapuça, o que sobra é frágil e defeituoso. Não. Se eu jogo a capa é porque dentro está crescendo, está se consertando, fortificando, não o contrário. Se não preciso de esparadrapos é porque estou curada. Recuperei a saúde mental, tenho mais espaço psíquico, mudei. E não preciso lamentar por isso! Será que vocês não veem? Em algum ponto da vida - ou em vários - você vai se encontrar onde você realmente deveria estar. Do jeito que você deveria estar. E isso muda tanta coisa...
A gente sabe que vai se cortar de novo, sabe que vai sangrar, que vai chorar de vez em quando, mas esse deveria ser o propósito, não? Passar pela vida sem se abrir para o acaso é viver? É tão bom conseguir sentir o sangue pulsando, sentir-se vivo, de verdade. Sentir a música entupindo os poros, arranhando a pele,  inebriando a mente. É pra isso que nós fomos feitos! Pra acreditar no acaso, no destino, no amor, no momento perfeito...
E é claro que temos medo! Ora, droga, por que não haveríamos de ter? Nós não sabemos o que vai acontecer! Mas a gente sabe que pode acontecer o melhor. E, só de existir essa possibilidade, há de valer à pena...
                Então resolvi deixar de me boicotar. Porque se me privo de tudo, é o bom também que vai embora. Deixa que o difícil venha, porque já sei que aguento duras provas.

Mas, sobretudo que venha o bom, o bem, o destino... quem sabe até amor...
                


- Rita Marcelino

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Apaixonar-se

Eu aqui achando que ia ser fácil não me apaixonar por você. Achando que estava tudo bem em ser exatamente assim do jeito que sou, casca grossa, metida a durona, dona da situação.
Eu aqui achando que eu sou mais feliz assim, não deixando ninguém entrar. Que a inimiga do bom senso é a paixão, e que ela não se encaixa aqui. Achando que tudo se encaminharia do jeito mais simples.

E foi.

Foi simples demais não conseguir te tirar da cabeça. Simples demais querer te beijar uma, duas, mil vezes.
Eu achando que estava tudo bem comigo. E estava. Mas quer saber? Agora está muito melhor. Porque minha cabeça acha fácil o caminho do teu peito. E o coração sente tanta falta do seu abraço.
E eu sei que a paixão realmente é inimiga do bom senso, mas dane-se, já cansei. Cansei de sentir a sua falta, mesmo antes de te conhecer.

E eu aqui achando que ia ser fácil não me apaixonar por você
Quando, na verdade, eu estava só te esperando...


- Rita Marcelino

(This I promise you... every word I say is true. It's your choice, believe it or not...
but right now, there's nothing more true to me.)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu estou consciente e tenho o poder de pensar como eu quero. Tenho o direito de pensar no que eu quero para o meu próprio bem. Eu tenho e posso impor ao meu mundo interior tudo aquilo que eu quiser. E quero me sintonizar com o melhor. Esqueço, a partir de agora, a pessoa que eu fui, sobretudo meus vícios de pensamentos. Penso apenas na paz. Penso nela, permitindo que seu perfume toque minha aura e atinja todas as áreas da minha vida, todos os cantos do meu corpo. Penso na paz com uma mensagem de ordem e equilíbrio perfeito. 

Deixo fluir na minha cabeça a consciência do 'eu posso'. Eu posso estar na paz. Impor essa paz é praticar o meu poder pessoal com responsabilidade divina, obtida por herança natural. O melhor para mim é um grande sorriso no peito. É a felicidade barata e fácil a que tenho direito. É tão simples pensar que o melhor está em mim! A beleza está em mim. A suavidade está em mim. A ternura, o calor, a lucidez e o esplendor das mais belas formas do universo estão em mim. Aí eu me abro inteira, viro do avesso e sinto que não há fronteiras nem barreiras para mim. Sinto que o limite é apenas uma impressão. Sinto que cada condição foi apenas a insistência de uma posição. Sinto que sou livre para deixar trocar qualquer posição por outra melhor. Sou livre para descartar qualquer pensamento ruim, qualquer sentimento ou hábito negativo, qualquer paixão dolorosa. Porque eu sou espírito. Sou luz da vida em forma de pessoa. 

Ah, universo, eu estou aberta para o melhor para mim. Eu sei que muitas vezes sou levada por uma série de pensamentos ruins. Mas é porque eu não conhecia a força da perfeição. Eu não conhecia a lei do melhor. Agora eu me entrego, me comprometo comigo, com o universo e contigo. Vou manter a minha mente aberta. Esse momento me desperta, me traz a inspiração ao longo do dia onde se efetiva a luz que irradia para quem insiste no próprio aperfeiçoamento. 

Não quero pensar nas minhas fraquezas. Quero olhar bem fundo nos meus olhos e ver como eu sou bonita, como fiz e faço coisas maravilhosas e como o meu peito está cheio de vontade. Eu assumo a responsabilidade sobre essas vontades e me projeto com força nessa identidade de saber que eu posso, sim, fazer o melhor. Despertar o meu espírito é viver nele. É ter a satisfação de ser eu mesma. É poder ser original, única, pequena e grande ao mesmo tempo. Sei agora que o melhor está a meu favor. Meu sucesso, aliás, é o sucesso de Deus que se manifesta em mim como pessoa em transformação. Eu sinto como se tivesse sentado nessa cadeira da solidez universal porque eu estou no meu melhor. Porque sou o sucesso da eternidade, porque estou há milhares de anos seguindo e não fui destruída. Porque o universo garante. Grito dentro de mim mesma: de todas as coisas da vida, o melhor ainda sou eu. O melhor sou eu!




- Não sei quem escreveu esse texto, quem souber me avisa para creditar como merece. Texto magnífico, escrito como se pudesse ler minha alma nesse exato momento! Parabéns ao(à) autor(a)!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Solilóquio (II Parte).


Eu não gosto de muitas pessoas. Não consigo nem faço questão.  Eu não gosto de barulho, não gosto de lugares lotados, de muito contato físico ou de uísque. Eu não gosto que me chamem pelo diminutivo, pelo superlativo ou quaisquer outras baboseiras que julgam elogiosas. 
Não gosto do simples, do preto e branco, do sim e não. Quero dúvidas, alternativas, escala de cores. Não faço questão de ser entendida ou de me fazer entender. Não faço questão de muitas coisas, e talvez devesse mesmo mudar. Eu gosto do escuro, da possibilidade do irreal, mas tenho medo. Eu amo o desconhecido, mas ainda mais o que já conheço, embora não o queira mais.
Acho todo mundo hipócrita, e não quero a paz mundial. Eu quero é mais que cada um lute pelo que acha certo, mesmo que o resto do mundo discorde. Não gosto de razoabilidade. Eu reclamo da futilidade feminina, mas não consigo resistir a um novo par de sapatos. A ideia de Comunismo me irrita, sou viciada em Mc Donalds, e prefiro Coca-Cola.
Tenho essa ridícula mania de achar que ninguém me faria mal deliberadamente, e tenho o costume de falar demais; nem sempre algo que valha à pena se ouvir. Sou melodramática e gosto de atenção. Arrependo-me de 90% das coisas que faço, mas nunca morri de vontade. Gosto de cerveja, adoro tequila, não há nada como uma cachaça de maracujá, mas nunca vodca. Meu combustível é café.
Sou noturna, sou de câncer, sei bater, mas apanho muito mais. Sou exclamações, às vezes reticências, mas nunca pontos. Vírgulas, vírgulas, vírgulas. Sou história e arte, sou música. Sou pura biologia, mas nunca fui matemática; nunca fui raciocínio, sou coração. Sou frente, sou verso, mas caio sempre na pretensão de parecer ser menos do que sou. Sou lágrimas, sou sangue, sou um interminável eco de emoções. Eu sou extremos, sou corda bamba, nunca estabilidade.
Eu sou um pôr-do-sol laranja-avermelhado, sou cores de Almodóvar, mas inda assim, amanheço. Sou rio, sou água, sou correnteza, mas inda assim, paro. Sou um dia cinzento, chuvoso, sou frio, mas inda assim, queimo.


- Rita Marcelino

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sobre amar

João,

Acho bastante válido conseguir se doar. Não necessariamente a outrem, mas às estações, ao vento, ao sensível prazer de sentir. Sentir-se. Parte do todo de todo amor.
Amar é fácil, João. Basta sorrir, inspirar algumas imperceptíveis partículas doces, expirar as amargas, ou não. Não venho cá trazer a fórmula, mas humildemente dizer que é simples, meu amigo. É simples demais. É entregar-se com tal zelo ao profundo e entorpecente “quiçá” da vida. “Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão.”
Mas, ah, meu amigo, antes fosse tão simples! O amor tem tantos labirintos, tantas idas e vindas, mas nunca se vai. Basta uma imagem, um flash aesthesis qualquer e já se enrola, e pula, e grita, e corre... Diabo de criança é esse amor! E se é hora de esquecer, não foge, não ajuda, não silencia. Criança malcriada é esse amor! Mas é bom, João, é bom...
E dói. Dói porque é simples demais se perder. Dói porque a cama está vazia e só há uma taça de vinho. Dói entre cada abismo silencioso no labirinto, transformando cada corredor em um infinito breu. Quando a solidão de uma risada ecoa pela casa estrondosamente; quando é preciso encher a cabeça para anular o coração; quando o café é só para um... Dói, João, esse amor dói.
Mas há dias coloridos, meu amigo, posso jurar que sim. Aqueles dias em que se amanhece cantante: “here comes the sun!”. O amor é bom. É sentir o perfume primaveril penetrar em cada poro; fantasiar o impossível; sentir arrepios na pele; sorrisos extasiados, bobos, incontroláveis. O amor é bom, sim. É poder se sentir capaz de tudo, quem sabe até de voar. Mas já se voa, João...
Quando se ama, a gente voa. Para algum lugar distante demais do normal, porém tão perto de nós mesmos. Não posso te explicar exatamente como chegar, João, mas te juro: é só amar.

- Rita Marcelino