quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Solilóquio (II Parte).


Eu não gosto de muitas pessoas. Não consigo nem faço questão.  Eu não gosto de barulho, não gosto de lugares lotados, de muito contato físico ou de uísque. Eu não gosto que me chamem pelo diminutivo, pelo superlativo ou quaisquer outras baboseiras que julgam elogiosas. 
Não gosto do simples, do preto e branco, do sim e não. Quero dúvidas, alternativas, escala de cores. Não faço questão de ser entendida ou de me fazer entender. Não faço questão de muitas coisas, e talvez devesse mesmo mudar. Eu gosto do escuro, da possibilidade do irreal, mas tenho medo. Eu amo o desconhecido, mas ainda mais o que já conheço, embora não o queira mais.
Acho todo mundo hipócrita, e não quero a paz mundial. Eu quero é mais que cada um lute pelo que acha certo, mesmo que o resto do mundo discorde. Não gosto de razoabilidade. Eu reclamo da futilidade feminina, mas não consigo resistir a um novo par de sapatos. A ideia de Comunismo me irrita, sou viciada em Mc Donalds, e prefiro Coca-Cola.
Tenho essa ridícula mania de achar que ninguém me faria mal deliberadamente, e tenho o costume de falar demais; nem sempre algo que valha à pena se ouvir. Sou melodramática e gosto de atenção. Arrependo-me de 90% das coisas que faço, mas nunca morri de vontade. Gosto de cerveja, adoro tequila, não há nada como uma cachaça de maracujá, mas nunca vodca. Meu combustível é café.
Sou noturna, sou de câncer, sei bater, mas apanho muito mais. Sou exclamações, às vezes reticências, mas nunca pontos. Vírgulas, vírgulas, vírgulas. Sou história e arte, sou música. Sou pura biologia, mas nunca fui matemática; nunca fui raciocínio, sou coração. Sou frente, sou verso, mas caio sempre na pretensão de parecer ser menos do que sou. Sou lágrimas, sou sangue, sou um interminável eco de emoções. Eu sou extremos, sou corda bamba, nunca estabilidade.
Eu sou um pôr-do-sol laranja-avermelhado, sou cores de Almodóvar, mas inda assim, amanheço. Sou rio, sou água, sou correnteza, mas inda assim, paro. Sou um dia cinzento, chuvoso, sou frio, mas inda assim, queimo.


- Rita Marcelino

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