quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Solilóquio



É inevitável que músicas fomentem ilusão. Um escorregão no presente e o esbarrão quase sempre tão forte nas linhas passadas. Sobe um cheiro, uma sensação. Era exatamente assim...
Como se não existisse passado nem pretensão de futuro, a música era o compasso, quase imperceptível, não obstante inebriante, da noite. Olhos que não se viam, corpos que não se tocavam, mas houve algo; uma centelha de paixão, quem sabe sorte. Não é como se existisse explicação ou um momento certo, entre uma hora e outra, mais um segundo e pronto. Algum chacoalhar das mãos, uma piada ou mais um copo.
Foi ali, quando teve que ser, quando a música entupiu os poros, quando vi você de longe, e quando percebi que já havia te beijado. Exatamente assim. Quando percebi seu espanto com meu beijo, quando quis fazê-lo de novo, mas me repreendi. Exatamente ali. Com a TV ligada, com a rede balançando, e nenhuma razão explícita para nenhuma das minhas ações.
É inevitável que eu reaja ao que sinto. Quiçá Deus me perdoe pela minha fraqueza, mas eu sinto tanto...


"If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight... "


- Rita Marcelino

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